17/10/2010

Da noite passada

The Silver Shine é uma banda meio fetichiosa. Você não adora mulheres que cantam e tocam? E se elas são ruivas de olhos verdes? E se, de repente, botam seu baixo clássico no chão, pra montar nele, e tocar, tocar, tocar? É. Quem viu a banda húngara no You Tube - ou em qualquer outro lugar da rede - sabe bem da qualidade no som dos caras. Mas, com muita sinceridade, e já saudade, devo dizer que ali, ao vivo, com a mocinha olhando nos teus olhos e exibindo sua pele branquinha sob a meia arrastão... É meio redundante dizer, mas não tem nada igual.

A banda da Hungria trouxe pro Demo Sul um psychobilly rechonchudo, forte, no melhor estilo "não duvidem de nós". Digo isso porque, pra mim, eles pareciam provar a qualidade de seu som a cada nova música. A moça do cabelo vermelho sorria à vontade seu sorriso branquíssimo e dizia seu "thank you" ao fim de cada música. Mas sempre respirava fundo, bem fundo antes de assumir o vocal. Isso - quem canta sabe - ajuda a voz, a respiração, toda aquela questão de segurar fôlego e força no diafragma.. Mas - e aí nem precisa cantar pra saber - também é coisa de quem tem muita responsabilidade com a própria música e se preocupa em botar o melhor de seu som pro público.

Não sei se dá pra levar isso como informação pertinente, comprovada, mas além de rock claro e muito firme, a The Silver Shine também trouxe algo meio artístico em sua atmosfera, como diria Chico Buarque - a respeito da língua húngara - "Era impossível destacar uma palavra da outra, seria como cortar um rio a faca". Ah, Chico, se você estivesse ontem no Demo Sul diria o mesmo, mas sobre o show. Era impossível desgrudar uma música da outra, descolar os acordes, dizer onde algo começava ou terminava, o show foi assim, conciso, completo.

O vocalista suava e "be my girl" e os olhos verdes respiravam fundo, alongavam os braços cansados, bebiam uma água, e quando você estava certo de que "Deus, eles chegaram a exaustão" estavam lá, tocando, cantando, fechando o cinto que escapou e "be my boy". O show do The Silver Shine não merecia acabar, mas - e isso é claro - chegou ao fim, com um coro de "more more, more more" que a moça respondeu com os braços abertos e a cara de "não sei se dá, não depende de mim, e agora?" algo assim, com o sorriso de novo.

Tudo estaria triste - depois desse adeus - não fosse a banda seguinte: Vendo 147! Você deve imaginar porque é que esses baianos foram tão esperados. Sim, as duas baterias ao mesmo tempo!

Eu já tinha aprendido a não subestimar - e dançar - o rock instrumental. Mas talvez eu ainda imaginasse que não podia ser tão mais surpreendente do que já havia sido. Pois bem, eu errei, e com que alegria! Os caras já surpreendiam por sua duas baterias, e a sincronia (das baterias e da banda toda) era inacreditável e, acredite se quiser, a Vendo 147 chacoalhou tanto o Alona que até o teto soltou uns "farelinhos" que caíram sobre o QG da colaborativa. É sério.

Os caras arrasaram. O público - como no Silver Shine - dançou do começo ao fim. E rolou até uma ameaça de "agora um pout porrie com o melhor do axé baiano"que, na verdade, chamou pra uns clássicos do rock: Sem a intenção de ofender ninguém, quem nos dera o "melhor do axé baiano" fosse um Angus e o AC-DC, ah, quem nos dera!

Bom, eu cometi um pecado grave: Perdi a primeira banda da noite de sábado. Pois é, disseram que perdi um showzaço com a Sick Sick Sinners. E, sobre esse show, só posso dizer o que me disseram "Não posso acreditar que você perdeu o Sick Sick, dona Isabela! Não tem horário nem verão que justifique". Eu sei, não tem mesmo, o que me resta é dizer que, hoje sem atraso, teremos mais rock no Alona, terceira noite de Festival com Sugar Kane, Test Drive (vencedora da última noite das prévias) e Brazilians Cajuns Southern Rebel, a mais esperada por mim. Se eu fosse você não perdia, por que, já sabe - e eu aprendi - não tem horário nem verão que justifique!

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