Quando você acha que já viu de tudo em psicodelia, eis que surge o Mescalha te provando o contrário. Os meninos se apresentaram ontem no Grêmio e vieram do jeito que a gente já esperava: camisas semi-abotoadas, calça de couro (igual a que o Júpiter e eu também vestíamos, mas sem estar furada como a do lunático), as botonas já conhecidas e, claro, muita performance.
Foto: Renata Cabrera |
Já que material sobre os meninos aqui no blog é quase o que não se encontra, lá vou eu escrever as minhas impressões sobre a banda + o show de ontem.
Primeiro, claro, começo (re) elogiando a qualidade dos músicos que compõem a banda. E isso muita gente há de convir. Mescalha pode até não ser tipo de som de muita gente, mas que isso não coloca em cheque a qualidade de quem o faz, não coloca. É inegável. Os músicos possuem vários projetos paralelos ao Mescalha e em todos eles o feito é feliz.
Chamem do que quiser, mas na minha humilde e leiga opinião, estou pra dizer que os caras compõem o pacote de músicos pés vermelhos que resolvem a equação feeling + técnica inacreditavelmente bem. Eles não se limitam tecnicamente o que gera, por consequência, uma não-limitação criativa. Trocando em miúdos: eles sabem o que fazer e, melhor, sabem como fazer.
Foto: Renata Cabrera |
Agora falo sobre as sensações provocadas em uma apresentação da Mescalha. Mais especificamente sobre a de ontem. É claro que como todo som psicodélico que se preze, os caras jogam as letras na temática da subjetividade, da loucura e do incompreensível. Mais que isso, conseguem fundir tudo e provocar sensações no público. Tudo, por incrível que pareça, sem o uso do sintetizador. Como? Vitor Delallo, baterista da banda, explica: “Nós usamos uns efeitos no baixo e na guitarra. Mas eu acho que é a idéia das músicas, elas já vem munidas de um certo psicodelismo natural”.
Se a intenção das letras é agradar o público que curte fritar o cérebro no estilo “LSD auditivo”, os caras se saem muito bem. Mas para quem não curte o que foge do coerente, as letras podem soar muito “anfetaminadas” e não ser uma ótima pedida.
Por se prenderem tanto no lance do alucinado, falta um “quê” de poesia e sentido nas composições. Muitas das quais parecem um amontoado de frases desconexas que, por certo tempo, provocam até uma alucinaçãozinha em quem ouve.
Outro ponto a ser ressaltado é que pela força sonora da banda, o vocal se esconde, perde, cede seu espaço. A banda tem tudo muito bem demarcado, mas o vocal fica meio escondido dentre tantas demarcações. Vitor fala que isso se dá principalmente pela dificuldade em se compor rock em português. “O nosso foco é o geral da música: onde cabe voz, tem voz. onde não cabe, não tem. Não forçamos, é tudo bem natural. Além disso, por gostarmos do progressivo, muitas partes instrumentais, o vocal “sumir” é uma coisa recorrente”, explica.
Apesar da ressalva, eu gostei muito do show (e olha que eu havia visto um show deles no dia anterior haha). E não fui a única. Apesar de a banda ter tocado antes da atração principal da noite, no palco de cima (era longe do que o Tom Zé se apresentaria, tínhamos que subir uma quantidade considerável de degraus), os meninos conseguiram lotar o espaço e, apesar do pouco tempo de apresentação, que era cronometrado pelos técnicos, fizeram o público curtir e cantar junto.
Um comentário:
Agradecemos as belas palavras e garantimos que a questão da poesia é intencional. Mais pelo efeito que pelo sentido literal das palavras. Mas mesmo assim, creio que ainda poético. Obrigado ao demosul, grande evento, grande espetáculo, ver o Tom Zé não tem preço.
Um abraço a todos.
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