22/10/2010

Parece coisa de outro mundo, e é!

Em alguns momentos eu tive certeza de que a Carol ia perder o fôlego, ou a voz. Ela falava com tanta necessidade de se fazer entender, com tanta agilidade, fervor. Parecia que, se a gente não compreendesse a ideia, nada valeria a pena. E isso tem uma razão: a lógica da cooperação é tão diferente de tudo o que a gente aprende na vida cotidiana que, em uns momentos, parece mesmo surreal e, por que não dizer, muito difícil de dar certo. E foi justamente isso o que a Carol veio nos contar ontem, no VI Simpósio de música independente, na UEL: a sua experiência - que deu e dá muito certo!

A Carol é do Massa Coletiva, um coletivo que promove bandas independentes, shows... Um coletivo que é meio como o Alona e os muitos coletivos que vemos pela cidade. Isso até certo ponto, porque chega um momento - momento crucial esse - em que o Massa ganha e a maioria dos coletivos que eu conheço (de longe, vá lá), perde: O massa tem diálogo, o massa é um coletivo que não é "coletivado" só com quem é massa, o Massa faz parte de um circuito, o Fora do eixo, que agrega vários outros coletivos que não se fecham em si mesmos, que levam as coisas além, e que viraram um eixo só em todo o Brasil.

A coisa, como tudo na vida, começa de leve. A troca é primeiro troca, coisa de brother, pra depois virar moeda social. O coletivo é primeiro um coletivo, pra depois se sistematizar e fazer parte de um circuito nacional. E, claro, tudo depende, desde o começo, de um tipo de consciência com a qual, ouso dizer, ninguém aqui tá acostumado. É. A gente é mestre em reclamar do sistema, do capitalismo, dos defeitos da democracia brasileira, mas, enquanto a gente não vê os números da economia solidária, do sistema de trocas, da colaboração, a gente não dá crédito. E isso é até compreensível quando se pensa que, aqui nesse caso, tudo está diretamente ligado à cultura, cultura independente, que no Brasil rende tanto quanto... Você sabe.

Mas, o que eu senti, é que o negócio tá em vias de mudar. Finalmente. A Carol bateu em uma tecla muitíssimo importante, o tal do chororô. Eu olho em volta e acho que é o primeiro passo, chega de chororô! Primeiro é acreditar no poder de uma coletividade determinada, e depois fazer-se acreditar. Abolir o seu chororô, pra acabar com o desânimo de todo mundo. Depois é o esquema das perceirias "eu não tenho cem mil reais, mas eu tenho parceiros", foi a Carol quem disse. E é essa a lição maior, é mais que "bonito e solidário", é um esquema real. Onde gente é gente e vale tanto quanto qualquer outro por aí. Você não vale menos que a empresa que patrocina, e nem mais. Tudo é meio que interdependente. É interligaçã e diálogo aberto, pra que se reconheça as próprias falhas, e pra que o coletivo, todo mundo, cresça e caminhe à diante.

O negócio é que, ainda que destoe do que nos é comum, os coletivos dependem de esquematização, contabilização e toda essa burocracia aporrinhante. Por quê? Pra que, quem tá fora, consiga compreender o que é essa economia solidária, esse sistema de trocas, a cooperação. E o retorno que ela pode dar. É pra tornar didático mesmo e, ainda assim, a Cabrera tem razão, a probabilidade de que a gente entenda - e consiga explicar com perfeição - o que é que é que isso é, afinal, é bem pequena. Infelizmente. Mas já sabemos que, como tudo na vida, isso vem aos poucos, e, como disse a Carol " A gente não começa com a pretensão de chegar lá, mas nunca perde o foco". Não é só "bonito e solidário", mas também é...

O fato é que, quando eu fechava os olhos pra pensar nessa economia solidária, eu via um monte de senhorinhas vendendo guardanapos e bisquit. Agora eu já penso que, se a gente se prestasse a - mesmo que na imaginação - dar o mínimo de conta do quanto isso vai além, o mundo já era outro. A economia solidária, como tudo no mundo, não nasce pronta e acabada, e nem deve. E, dentro dos coletivos culturais, tem ainda outra característica básica: A valorização da relação pessoal. Coisa que, parece, a gente andou perdendo no meio do caminho. O sistema de trocas começa no "Brother", "show e breja", mas se parar por aí não se cresce nem a metade do que a economia e cooperação podem proporcionar. A questão é justamente essa: "O que é que você pode fazer? Onde é que você quer chegar?"

Olha que, daqui, eu to vendo um caminho pra essa colaboratida seguir quando o festival acabar. Sem chororô, minha gente, o que vocês conseguem ver? Eu digo apenas que "É nóis".


5 comentários:

Renata Cabrera disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Renata Cabrera disse...

Eu devo estar muito a flor da pele mesmo. Mas, o fato é que de repente muita coisa do que aprendemos ontem pode vir a fomentar um desejo maior de nos tornarmos parte desta grande "nebulosa". Confesso que me emocionei Isa. Vamos abraçar essa parada. Tô orgulhosa de fazer parte de uma cobertura colaborativa como esta. Vocês são PHODAS!

Thamiris Geraldini disse...

Faço minhas as suas palavras e as da Cabrera. Voltei para casa com o intuito de abraçar a causa e não deixar que esse lance tão bom se perca ao término do festival.

Tamo junto e "é nois"!

Isabela Cunha disse...

É por isso que a colaborativa chacolaha tanto a gente. Sem nem pensar duas vezes a gente já quer abraçar a causa, e vai! É questão de confiança, mutua, parceiria. Vocês são fodas, cara. E essa parada é a nossa "chavinha" como bem disse a Carol.

Z disse...

Olá pessoal. Sou Luiz do coletivo Pegada e da Banda Festenkois. Estive aí nas prévias e já naquela época vi o potencial do pessoal da Colaborativa em ser mais do que uma Zona Autônoma Temporária. Boto fé demais em vocês! Abraços a todos!