Depois das prévias, achei que o Demo Sul ia demorar pra chegar. Não. Ele já ta aí, começou sexta-feira, numa Londrina escura às cinco da tarde, o que nos tirou da Concha Acústica e colocou no Museu de Arte. Mas oi? Você que tem uma avó que mora aqui desde sempre, vá lá e pergunte: “vó, o que acontecia quando as pessoas esperavam ônibus com chuva na antiga rodoviária?” (ah é, momento história: o que hoje é o museu de arte era uma rodoviária). Com certeza ela vai responder que todo mundo se molhava. E foi o que aconteceu. Chovia de lado e quando eu tive a brilhante idéia de ficar na barraca onde estava o pessoal da colaborativa (que era fechada do lado), descobri que all star não combina com poça d’água.
Por culpa de toda essa água que caiu por aqui e da mudança de lugar, achei que não ia aparecer uma alma pra assistir aos shows. Mentira. Deu gente. O pessoal se aglomerava por ali, caçava um bar nas proximidades pra arrumar uma cerveja e esperava que terminasse a passagem de som e que as bandas começassem a tocar. Começaram. A primeira banda era Bernardo Pellegrini e o Bando do Cão Sem Dono, com suas músicas poéticas e um menininho fofo (devia ser filho do Bernardo) que ficava dançando na frente do palco. Depois veio lá de Pernambuco essa banda toda cheia de estilo chamada Babi Jaques e os Sicilianos. Uma belezinha. Babi tem uma voz linda linda, bate cabelo e usa vestido vermelho. Os sicilianos, muito bem alinhados, são responsáveis pelo som que fez a platéia encharcada dançar e dançar. Por último, a banda Cérebro Eletrônico. Estava do outro lado do museu entrevistando Babi Jaques e os Sicilianos e perdi o começo do show, mas tava todo mundo se divertindo enquanto a chuva caía.
Lá no museu, os colaboradores encarregados de escrever sobre os shows ficaram só observando e anotando tudo, já que não rolava Internet como no Alona. Já o pessoal das fotos, do vídeo e do áudio teve que se adaptar às condições diferentes pra conseguir todo esse material que já foi postado aqui.
Me contaram que o Alona ferveu na sexta-feira. Com o coraçãozinho na mão, eu tive que ficar em casa. Mas o sábado não ficou atrás. O psychobilly dos Sick Sick Sinners, de Curitiba, fez todo mundo dançar. O Alona foi infestado por camisas xadrez e som de baixo acústico. Curiosamente, o número de topetes por metro quadrado foi menor do que se costuma ver nesses shows. Algum colaborador observou que a galera fica longe do palco. No sábado essa distância diminuiu um pouco, mas não tanto. Alguém resolveu dar um mosh, sinalizava com os braços pra quem estivesse ali na frente se amontoar, ninguém obedeceu. Mosh fail.
A banda The Silver Shine, da Hungria, continuou no psychobilly. Eu ficava cansada só de olhar pra baixista, que é toda magrinha e toca aquele instrumento maior que ela dançando e cantando o tempo todo. Era com essa mesma energia que as pessoas dançavam na frente do palco. Tava bonito de ver.
E depois de um intervalo pra arrumar tudo – e nessa, uma galera foi embora -, entra a banda Vendo 147. O que eu tenho a dizer é: nossa. Sentei ali na ilha e fiquei só observando, hipnotizada pelas duas baterias e pela sincronia de toda a banda. Sem perceber, eu já estava batendo o pé no chão e tudo reverberava. Aí eu senti uma coisa no braço. Olhei pro lado, devia ser bicho. Na mesma hora, a Sarah, que estava do meu lado também olha. Ela também sentiu. Ta esquisito isso aí. Daqui a pouco alguém diz que tem farelo do teto caindo: “olha ali o notebook de fulano”. Tudo preto. Nenhum microfone, duas baterias e o teto se esfarelando sobre os colaboradores. Vendo 147 foi minha banda preferida da noite.
A noite de domingo começou cedo, com a banda Brazilian Cajuns Southern Rebels. Era a banda mais diferente da noite, tinha mais a ver com a galera que tocou no sábado. O palco ficou pequeno pros seis caras. Eles ainda dançavam. Também dancei. E boa parte de quem estava lá. Fosse quem tinha ido só para vê-los ou o público das outras bandas, que curte um som diferente. Na entrevista de áudio eles até falaram um pouco sobre isso aí, de tocar pra uma galera que não é a que geralmente vai aos shows deles.
Depois, a banda Test Drive. A ilha estava tensa depois da polemicazinha das prévias. Deu tudo certo. Os meninos vieram com bichinhos de pelúcia no palco, trouxeram a caravana e rolou twitcam pras fãs que tinham aula na segunda-feira e a mãe não deixou vir pro show. Eles responderam as críticas feitas por aqui, falaram que “se é pra ser fofo, então é” e ainda conversaram sobre com a Tati na entrevista de vídeo. E se saíram bem, devo dizer. Por fim, tocou a banda Sugar Kane. O hardcore dos caras fez todo mundo pular igual louco, bater cabeça e cantar junto. Não caiu farelo do teto dessa vez, mas com certeza foi o show com público mais empolgado até agora.
Continuo achando que a coisa mais legal de estar todos os dias no Demosul, conversar com quase todas as bandas e observar bem o público em cada show é perceber essa diversidade, as diferenças entre estilos, bandas e públicos. Aliás, as bandas desse fim de semana apareceram cheias de peculiaridades. O guardador de baquetas de um dos bateristas da Vendo 147, a colher no bolso do vocalista da Brazilian Cajuns e os bichinhos de pelúcia da Test Drive (as explicações estão nas entrevistas em vídeo que eu vou linkar de novo, aqui, e aqui, respectivamente). Claro, sem contar todas as piadas que surgem na ilha e a troca de experiências que rola entre os colaboradores. Eu continuo me divertindo. E esse foi só o primeiro fim de semana.
Um comentário:
Sensacional Marina, teu olhar sobre a cobertura e sobre os shows em enchem. Gosto muito dos seus textos também, eles são intensos e escritos com - suponho - muita dedicação.
Achei apenas que faltaram algumas fotas para ilustrar, mesmo que fosse como hiperlinks... ;)
um beijo e parabéns!
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